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11 de abril de 2011

A tragédia de Realengo
- Alencar Garcia de Freitas

Na fatídica manhã de quinta-feira, 7 de abril de 2011, o aparentemente pacato bairro do Realengo, Rio de Janeiro, foi para o noticiário nacional e internacional, como palco do maior massacre coletivo de crianças em uma escola brasileira: 12 mortes e 12 feridos. Autor dessa obra macabra: Wellington Menezes de Oliveira, 23 anos, que teria se matado em seguida.

O que se conhece do autor desse feito trágico ainda é pouco para que a sociedade possa fazer uma avaliação mais profunda sobre sua personalidade. Vendo, no entanto, o noticiário de televisão, rádio e jornal a respeito desse jovem, pode-se avaliar que, mesmo não tendo antecedentes criminais, ele era, sem dúvida, o que se pode chamar de “produto do meio”.

Sua mãe biológica, portadora de problemas psiquiátricos, morreu quando ele ainda era criança, tendo sido adotado e criado por uma senhora, que faleceu há uns dois anos. Sobre o pai, falecido há uns cinco anos, pouco se sabe. Pelo seu jeito caladão, e portador de uma deficiência física, era debochado e muito pelos colegas de escola. Não tinha amizades. Vivia na solidão. Passava horas a fio no computador


Será que esse perfil atípico, ou melhor, esse perfil anormal, não seria um indicativo de que Wellington era uma pessoa fora do contexto rotineiro de jovens de sua idade?


Algum profissional da área de comportamento humano não percebeu o que estava acontecendo com esse jovem e não acordou para a necessidade de lhe dar um tratamento adequado? A comunidade em que ele vivia – embora não vivesse plenamente em comunidade – não percebeu o estado anormal do moço?

Se perceberam – conhecidos e comunidade – e não fizeram nada para tentar ajudá-lo, acabaram virando cúmplice, por omissão, dessa tragédia.O crime por atacado praticado no Realengo deixa mais do que claro que o matador era um psicopata, e ninguém viu – ou viu e fingiu que não viu – demonstração de indiferença da sociedade com o quadro desse jovem – o que é algo muito sério.


Em decorrência de tanta indiferença da parte daqueles que estavam no entorno de Wellington, podemos dizer que criou-se um monstro, sempre presente na comunidade. O seu histórico de vida relata que ele foi um estranho a vida inteira, servindo de deboche e provocações que o levaram a se tornar um potencial matador em série, calculista, frio e indiferente, da mesma forma que o trataram desde criança.


Quantos milhares de Wellingtons povoam as nossas cidades e o nosso país sem que ninguém mova uma palha sequer para salvá-los? São milhares de Wellingtons que debocham da vida. Para eles tanto faz viver como morrer. Muitas vezes na vida deles morrer é um prêmio, porque saem da vida do modo melancólico que nasceram e que viveram.

Há uns 12 anos ou mais, escrevemos e publicamos no jornal A Gazeta artigo em que chamávamos a atenção para o número sempre crescente de excluídos, dentre eles os incontáveis que vivem perigosamente, debochando da vida e da morte, porque para eles não faz nenhuma diferença viver ou morrer. Às vezes esta segunda alternativa é muito melhor. A tragédia de Realengo deveria acender em cada um de nós – e manter aceso o tempo todo – um sinal de alerta, para enxergarmos e melhor o que acontece no nosso entorno e tentar fazer algo para evitar o pior.

Alencar Garcia de Freitas é jornalista.

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