A matéria é do jornal "O Estado de São Paulo" e foi "psicogarfada" do bagdasamba, blog de samba linkado na coluna esquerda do BDO.
Ongui de ex-jogadora de basquete do interior de São Paulo, vereadora do PC do B, recebeu R$ 28 milhões desde 2004: dá R$ 4 milhões por ano.
Projeto do Ministério do Esporte só em 2010 distribuiu R$ 30 milhões a ONGs
de dirigentes e aliados do partido; 'Estado' percorreu núcleos esportivos no DF, GO, PI, SP e SC e flagrou convênios com entidades de fachada, situações precárias e de abandono.
BRASÍLIA - Principal programa do Ministério do Esporte, comandado por
Orlando Silva, o Segundo Tempo, além de gerar dividendos eleitorais,
transformou-se num instrumento financeiro do Partido Comunista do Brasil (PC
do B), legenda à qual é filiado o ministro.
A reportagem do Estado foi conhecer os núcleos do Segundo Tempo no Distrito
Federal, em Goiás, Piauí, São Paulo e Santa Catarina. A amostra, na capital
e região do entorno, no Nordeste mais pobre ou no Sul e no Sudeste com
melhores indicadores socioeconômicos, flagrou o mesmo quadro: entidades de
fachada recebendo o dinheiro do projeto, núcleos esportivos fantasmas,
abandonados ou em condições precárias.
As crianças ficam expostas ao mato alto e a detritos nos terrenos onde
deveriam existir quadras esportivas. Alguns espaços são precariamente
improvisados, faltam uniformes e calçados, os salários estão atrasados e a
merenda é desviada ou entregue com prazo de validade vencido.
No site do ministério, o Segundo Tempo é descrito como um programa de
"inclusão social" e "desenvolvimento integral do homem". Tem como prioridade
atuar em áreas "de risco e vulnerabilidade social", criando núcleos
esportivos para oferecer a crianças e jovens carentes a prática esportiva
após o turno escolar e também nas férias.
Conferidas de perto, pode-se constatar que as diretrizes do projeto, que
falam em "democratização da gestão" foram substituídas pelo aparelhamento
partidário. A reportagem mostra, a partir deste domingo, 20, como o ministro
Orlando Silva, sem licitação, entregou o programa ao PC do B.
O Segundo Tempo está, majoritariamente, nas mãos de entidades dirigidas pelo
partido e virou arma política e eleitoral. Só em 2010, ano eleitoral, os
contratos com essas entidades somaram R$ 30 milhões.
O Ministério do Esporte afirma que "cabe à entidades parceira promover a
estruturação do projeto". Questionado sobre as situações constatadas pelo
Estado e pelo controle partidário do programa, o ministério defendeu o
critério de escolha das entidades sob o argumento que é feita uma seleção
técnica dos parceiros.
Terreno vazio. O dinheiro deveria ser usado para criar 590 núcleos e
beneficiar 60 mil crianças carentes. Na procura por um núcleo cadastrado na
cidade do Novo Gama (GO), por exemplo, a reportagem encontrou um terreno
baldio onde deveria funcionar um campo de futebol. Cerca de 2,2 mil crianças
foram iludidas na cidade por uma entidade sem fins lucrativos fantasma.
No Novo Gama, o programa Segundo Tempo é só promessa, mas, na última
campanha eleitoral, foi usado como realidade pelo vice-presidente do PC do B
do DF, Apolinário Rebelo. O mesmo ocorreu na Ceilândia (DF).
Em Teresina (PI), no lugar de uma quadra poliesportiva os jovens usam um
matagal, onde improvisam tijolos e bambus para jogar futebol e vôlei. Do
lado de fora, no muro do terreno, a logomarca do Segundo Tempo anuncia que
ali existiria um núcleo do programa. O local é um dos espaços cadastrados
por uma entidade que já recebeu R$ 4,2 milhões para cuidar do projeto. Seus
dirigentes são do PC do B.
Lideranças de comunidades carentes de Santa Catarina criticaram a
intermediação do Instituto Contato, dirigido pelo PC do B, no Segundo Tempo
e anunciaram que abriram mão do projeto. Aulas de tênis são dadas na
calçada, com raquetes de plástico. Em Florianópolis, a reportagem encontrou
um lote de suco de groselha com validade vencida num núcleo do programa.
A campeã de recursos do governo é a ONG Bola Pra Frente, dirigida pela
ex-jogadora de basquete Karina Rodrigues, vereadora de Jaguariúna (SP) pelo PC do B - R$ 28 milhões foram repassados à entidade desde 2004.
Prestação de contas
O Ministério do Esporte afirma, em seu site, que todos os convênios do
programa Segundo Tempo devem fornecer "descrição detalhada dos materiais,
bens ou serviços adquiridos"
Para entender
O Programa Segundo Tempo foi criado no começo do governo do ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva. Na teoria, o objetivo é oferecer a crianças e jovens carentes oportunidade de prática esportiva após o turno escolar e nas férias.
O Ministério do Esporte fecha parcerias com entidades sem fins lucrativos, que assumem a tarefa de botar em prática o Segundo Tempo. Prefeituras também fazem convênio com o governo. A ideia é criar núcleos esportivos e contratar professores.
Segundo o ministério, o Segundo Tempo deve "oferecer práticas esportivas educacionais, estimulando crianças e adolescentes a manter uma interação efetiva que contribua para o seu desenvolvimento integral".
Nota do BDO: matéria do jornal "O Estado de São Paulo".
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