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- "É provável que Wellington não tenha encontrado em seu caminho uma dona Guilhermina, minha mãe e uma professora Erondina, minha primeira mestra de verdade e minha primeira orientadora", diz Garcia de Freitas.
- "É provável que Wellington não tenha encontrado em seu caminho uma dona Guilhermina, minha mãe e uma professora Erondina, minha primeira mestra de verdade e minha primeira orientadora", diz Garcia de Freitas.
Depois da tragédia de Realengo, o autor da matança de 12 crianças e do ferimento de outras 12, nascido com o nome de Wellington Menezes de Oliveira, na comunidade e nos colégios em que estudou – ou tentou estudar – perdeu sua real identidade e passou a ser tratado e conhecido pelos apelidos que recebia dos seus colegas de colégio e por conhecidos.
Iniciou-se com ele a prática aberta e não contida do bullying, cujo termo, traduzido para o bom Português, significa humilhação. Ninguém mais o conhecia por Wellington, nome forte e expressivo, que recebeu quando foi registrado.
Desgraçadamente, o bullying existe desde há muito com termos mais apropriados hoje para nós, brasileiros, como humilhações. Às vezes as vítimas costumam dar a volta por cima, por si mesmas ou graças a acompanhamento adequado por parte dos pais e/ou pessoas da família, e, nos últimos tempos, por profissionais da área de comportamento humano.
Quando criança, com uns oito anos, por aí, estudei, na minha cidade – Aimorés – no colégio de dona Sinhá Andrade, a melhor escola particular da cidade, freqüentada só por filhos de ricos ou de famílias abastadas e tradicionais. Fui estudar lá por conta de um cunhado, casado com uma das minhas irmãs mais velhas, que era bancário, e bancava os meus estudos. Eu era o único pobre de verdade que estudava num colégio de bacanas, como aquele.
Ainda tenho em mente alguns nomes de colegas, filhos de famílias tradicionais que foram meus contemporâneos: Guerra, Chimelli, Galvão, Faiçal, Bacelar e Garcia, estes meus parentes remediados ou bem de vida. Não tenho certeza, mas a impressão é que o doutor Michel Assbu estudou lá também depois de mim, até porque a casa de comércio do velho Antonio Assbu, seu pai, ficava na mesma avenida e bem próximo da escola.
As humilhações começavam por parte da própria dona Sinhá, proprietária da escola, que, por qualquer motivo – o mais simples que se possa imaginar (bastava que eu não soubesse responder alguma questão de matemática) – para apanhar de palmatória e ser colocado ajoelhado em cima de grãos de milho. O mesmo não acontecia – nunca vi acontecer – com os filhos dos bacanas.
Eu era uma espécie de patinho feio da turma, que me provocava o tempo todo me chamando de gordinho e outros apelidos. Não suportando mais tanta humilhação e de ser maltratado, fugi do colégio, saltando um portão de ferro enorme, mais parecido com portão de presídio. Ainda bem que a minha mãe não me obrigou a voltar para aquela escola e depois de me aconselhar muito para não me sentir humilhado, fez a minha matrícula noutra escola, cuja regente era Erondina Machado, a professora mais espetacular da minha vida: educadora humana, carinhosa, maternal e amiga, que muito me ajudou na minha iniciação escolar. Rendo ainda hoje, à sua memória, as minhas homenagens.
Alencar Garcia de Freitas é jornalista.

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