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29 de novembro de 2010

O nobre café Jacu: uma cagada
de grande valor. Por Claudio Lachini


Consumo
O nobre café Jacu

Uma descoberta da Indonésia é trazida para o Espírito Santo e enobrece a produção de café. Os ricos pagam até R$ 450,00 por um quilo dessa nova beberagem que é uma cagada de grande valor

O mundo dos ricos e poderosos sempre teve prazer no exótico. Talvez por isso os romanos apreciassem língua de passarinho, tida como iguaria e que um dia provei em Bérgamo, na Itália, em seu prato provincial "Polenta e Ozzei". Em dialeto, e que se traduz por polenta e passarinhos. Talvez a marca de um ítalo-brasileiro criado na pobreza tenha sido por demais evidente ao "cuoco", que nos serviu pardais, com língua e tudo, torrado e amargo. A mim, esse exótico soa a Poder – só os ricos e, portanto, os poderosos, tem acesso a essas insólitas guloseimas.

O empresário Henrique Sloper, proprietário da fazenda Camocim, no município serrano de Domingos Martins (ES) é o autor da façanha, quando soube que na Indonésia se produz o café "Kopi Luwak", a partir das fezes do civeta, uma espécie de gato selvagem que come os grãos maduros e defeca a parte não digerida dos caroços, colhidos pelos agricultores, seco, torrado e moído, para ser revendido em Paris, Nova York, Los Angeles. Sloper até então era combatente dos pássaros jacus, que atacavam seus cafezais e chegavam a devorar 10% dos grãos maduros.

Por volta de 2005 ele próprio e seus empregados começaram a recolher as cagadas dos jacus e a torrar os caroços embosteados, depois moídos, coados e bebidos. Meu informante declarou que os grãos não podem ser lavados, sob pena de tornar aquela preciosidade comum aos cafés dos pobres.

-"O sabor desse café é equilibrado e muito bom. Fica um gosto bom na boca", disse a consultora de cafés Eliana Relvas ao jornal "A Tribuna".

Em meu pequeno conhecimento sobre café, embora tenha sido criado em uma fazenda produtora até os 12 anos de idade, posso afiançar o que disse a consultora Eliana, acrescentando que se trata de uma bebida mole, assemelhada aos melhores suaves colombianos, sem nenhum travo do passaredo.

O café "Jacu Bird" da fazenda Camocim é exportado para a Europa e Estados Unidos desde 2008 e tem uso entre os consumidores de produtos orgânicos. A produção daquele ano foi de apenas 150 quilos, mas ela está crescendo porque não faltam jacus. Ao contrário: protegidos eles tem uma população numerosa.

Dizem que o quilo do café "Jacu Bird" custa em torno de R$ 450,00 em Vitória. Em poucos estabelecimentos de Pedra Azul, nas montanhas de Domingos Martins, o preço é bem menor. Ele pode ser degustado a R$ 7,00 a xícara, comparado a R$ 0,50 o tradicional.

Como os jacus habitam ao longo de toda a Serra do Mar e da Mantiqueira, pode ser que novos cafeicultores se habilitem a prover o mundo de uma iguaria de digestão e metabolismo mais rápidos do que a asiática cagada de um gato selvagem!

Claudio Lachini é jornalista e escritor.

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